Leiam com atenção um trecho de uma matéria publicada no dia 27 de março de 2024 no Jornal Valor Econômico:
“Mesmo altamente qualificadas, pessoas com deficiência (PCDs) estão distantes dos cargos de comando. É o que aponta uma pesquisa da consultoria Talento Incluir, especializada em diversidade e inclusão, com 566 PCDs em busca de colocação no Brasil. O levantamento, obtido com exclusividade pelo Valor, revela que quase metade (49,8%) dos entrevistados tem ensino superior completo e, entre eles, 24% concluíram pós-graduação, MBA, mestrado ou doutorado.”
Para a grande maioria das pessoas a notícia pode parecer algo novo. Já estou até imaginando alguns dizendo: “Meu Deus, eu não sabia disso!” ou “Credo, pensei que as oportunidades eram iguais para todos!”.
Pois é, a realidade é exatamente essa e eu falo com conhecimento de causa. Já me candidatei dezenas de vezes para vagas diversas em sites de empregos e no Linkedin e, sem qualquer preconceito com a profissão, o que me chamam é para a função de telemarketing, mesmo apresentando um currículo bem estruturado e conquistado com muito esforço.
Nas minhas idas e vindas por esse mundão de Deus, descobri que não existe um teste psicotécnico para pessoas cegas ou com baixa visão severa nos processos de seleção empresariais. Como posso concorrer a uma vaga de gestão se não existe um teste para me avaliar? Talvez seja mais fácil me eliminar nas etapas anteriores, não é mesmo?
Estou falando apenas da minha deficiência (visual) então, o trecho da matéria do Valor Econômico reflete exatamente a realidade do mercado. Esse cenário justifica o enorme número de pessoas com deficiência tentando concursos públicos ou ficando em casa recebendo o Benefício de Prestação Continuada – BPC, que é de 1 salário mínimo.
No mesmo cenário está a Lei de Cotas (n. 8.213/91) que exige das empresas com mais de 100 funcionários de 2 a 5% de colaboradores com deficiência ou reabilitados pelo INSS. Uma bela iniciativa e tentativa do governo de promover a inclusão “goela a baixo”.
As empresas acabam ofertando subempregos para cumprir a lei e, em 99,99% dos casos, não dão oportunidades para as pessoas com deficiência conquistarem cargos mais altos por suas qualificações. O que fica transparente é que a palavra PCD no currículo já basta e, por isso, é um grande diferencial no mercado, mas não foi conquistada com anos de estudo, mas sim com anos de preconceito, capacitismo, desafios, angústia, ansiedade…..
Caso um PCD ainda venha com um curso superior conquistado com muito suor, não serve para as empresas, pois essa qualificação não se enquadra nas características das vagas ofertadas. Preferem pagar 1 salário mínimo para 5 PCD sem qualificação do que pagar 5 salários mínimos para 1 PCD qualificado. A matemática é simples, a Lei de Cotas não se preocupa com qualificação, mas com números absolutos. Resumindo, para quem precisa cumprir essa lei, 5 vagas ocupadas por pessoas com deficiência sem qualificação é melhor do que 1 vaga ocupada por um PCD com qualificação. 5 é maior que 1 ok?
É mais fácil encontrarmos uma pessoa com deficiência ocupando a Presidência de um Tribunal de Justiça ou de uma Assembleia Legislativa, pois eles conquistaram passando em um concurso público ou foram eleitos pelo povo.
Peço que tire suas próprias conclusões sobre os motivos que não nos levam à conquista de cargos de gestão ou direção. Até breve!